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Objetos cortantes como tesouras e navalhas não são permitidos dentro de unidades prisionais por motivos óbvios. Mas no Presídio de Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, esses artefatos são instrumento de ressocialização de presos. Um corredor estreito foi transformado em salão-escola de barbeiro e cabeleireiro. O curso dura três meses e a cada edição três presos passam quatro horas por dia praticando. Não faltam clientes e há sempre gente interessada em aprender a profissão.

O salão-escola é custeado por um empresário da cidade, que prefere que a sua contribuição continue anônima. Xampu, condicionador, tesouras e outros materiais necessários para o corte de cabelos são doados por parceiros. O instrutor do curso é César Augusto dos Reis, que dedica algumas horas da semana a essa atividade, de forma inteiramente gratuita.

“Só quem faz este tipo de trabalho sabe como é. Eu me sinto outra pessoa ajudando o próximo. Acho importante compartilhar o que a gente sabe fazer com outras pessoas, mais ainda quando se trata daquelas que muita gente não quer nem chegar perto”, relata César.

 

Os alunos começam treinando com navalha e tesoura numa cabeça de boneca. Aprendem também a técnica básica de química capilar, colorimetria e relaxamento. Ao final das 160 horas de curso, recebem um certificado e já estão aptos a procurar alguma vaga no ramo quando a liberdade chegar.

“Quando eu sair daqui, vou montar um salão pra mim”, promete Michael Alves Gomes, de 25 anos. Ele faz em média cinco cortes por dia e garante que não dá conta de atender toda a demanda do presídio. Assim como Michael, Wellington Romano, de 36 anos, acredita que a oportunidade oferecida pelo presídio pode transformar a vida do preso.
“No início, quando ficamos sabendo que seria oferecido o curso de cabeleireiro, eu não dei importância e não quis participar. Hoje, depois de ser convencido a fazer parte da turma, percebo o quanto essa chance é importante”, analisa Wellington, que aprendeu tão bem o ofício que acabou instrutor auxiliar.

Mais trabalho extramuros

O Presídio de Ibirité vem se notabilizando por engajar seus presos em obras públicas na cidade. Atualmente, três detentos trabalham nas obras da 213ª Cia de Polícia Militar de Ibirité. Entre eles, Robson Alves Gomes, de 29 anos, que teve a oportunidade de retomar o antigo ofício depois de dois anos de reclusão.

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A experiência de Robson está sendo aproveitada na construção do auditório, de um quiosque de confraternização, da cobertura do pátio, entre outras melhorias do quartel. Segundo o preso, a oportunidade de estar fora da cela, trabalhando o dia inteiro, ajuda a ocupar a mente e é uma chance única de mudança de vida.

Por uma ironia do destino, o policial militar que prendeu Robson está lotado na 213ª Cia. O preso não se incomoda e diz que aprendeu a conviver com os policiais e com as regras do quartel. O comandante, Capitão Wellington, é um dos grandes incentivadores do emprego de presos nas obras. Segundo o oficial, é visível a mudança de comportamento dos três detentos. “Percebemos que eles trabalham satisfeitos e estão felizes com a oportunidade. Estar aqui, mesmo trabalhando durante todo o dia, é muito melhor do que estar dentro de uma cela”, diz.

Por: Flávia Lima

Fotos: Marcelo Sant'Anna